Páginas

terça-feira, 26 de março de 2013

Fala sério, Thalita Rebouças!

Não ando muito constante com o Blog, embora o mesmo não ocorra com minhas leituras. Já terminei o exemplar "Fala sério, amor!" e estou na metade de "Um dia" sem ter aparecido aqui para dividir o que tenho a dizer do livro...

Devo dizer que Thalita Rebouças é sensacional, principalmente com relação aos adolescentes. Impressionante o quanto eles se entregam às suas histórias... Você consegue atingir até aqueles alunos que dizem não gostar de ler... 
E é fato, se você, como professor,  ouve reclamações: "Credo, aula de leitura? Hoje tem aula de leitura?, acompanhada das piores expressões é porque não fez com que eles se identificassem com alguma obra, não sensibilizou sua turma com algum enredo fascinante, ou até mesmo porque não é possível passar entusiasmo, transmitir o gosto pela leitura se você de fato não tem ou não acredita no que faz.


Foi pensando nos meus alunos, que comprei mais uma obra de Thalita Rebouças, depois de ter lido "Ela disse, ele disse", em 2011, com uma turma apaixonante de oitavo ano que gritava quando a aula acabava e a leitura tinha que ser interrompida. Hoje retomo a obra com meus amados do nono ano!
Defendo e recomendo este livro... Leiam com seus alunos. As meninas vão se apaixonar de cara, vão se identificar com a Rosa, nossa protagonista dramática, detalhista e cheia de crises... ao passo que os meninos vão idolatrar o Leo, outro protagonista que vai mostrar o universo masculino. Reconhecendo as diferenças e convivendo com elas, Leo e Rosa vão passar por muitas situações típicas da adolescência em casa, na escola, com os pais e tudo irá colaborar para que possamos entender o outro e viver bem!
____________________________________________________



Já o livro Fala sério, amor! vai contar as aventuras de Malu e suas experiências de amor ou quase amor dos 7 aos 21 anos: o primeiro encontro, o primeiro beijo, os primeiros namorados, os primeiros foras, os primeiros problemas, as primeiras ilusões, mentiras... Tudo de uma forma bem humorada que nos faz rir, concordar e relembrar, no meu caso, das coisas que já passei.
E como a nossa protagonista é dramática...

Não tive um primeiro amor de criança, porque eu era apaixonada pelas minhas bonecas, era uma entrega tamanha que não havia tempo, curiosidade ou qualquer espaço. 
Meu primeiro beijo veio acompanhado pelo meu primeiro namorado aos 14 anos e acreditem, eu tenho uma foto deste momento que acaba marcando a vida de qualquer menina!
A partir daí abri a porta para o amor, para a paixão, para aquela euforia de estar com alguém, mas também para os dissabores como desilusões, decepções. Enfrentar uma verdade, descobrir uma mentira, apegar, ter que desapegar, esquecer, recomeçar...

Mas a vida é isso, e com poucas/raras exceções de pessoas que cruzaram minha vida (as quais gostaria de apagar, eliminar se possível fosse) tudo foi mágico, no momento certo, e ficarão guardadas em mim como parte de minha história... Cada um, de um jeito ou de outro, tornou-me esta que sou hoje: melhor que a de ontem, mais mulher e preparada para o que tiver que vir amanhã!

Não vou ler Fala sério, amor! na íntegra com meus alunos, porque o tema está muito voltado a relacionamentos, e há acontecimentos de idades mais avançadas da que o público alvo com que trabalho. Já li alguns capítulos com eles, ficaram muito interessados... Mas não é um livro de sala de aula... Penso no que os pais diriam ao ver um livro repleto de corações, em que a menina fala do seu primeiro amor aos 7 anos..... hahahahah Não quero um problema desses comigo. Não há nada demais nos capítulos, mas qual a mensagem implícita que estarei passando?!

Vou analisar "Fala sério, professor", acredito que possa ser uma boa escolha para se trabalhar em sala de aula, mas, enquanto isso, "Ela disse, ele disse" é garantia de aulas de leitura com total sucesso.

Deixarei aqui minha típica seleção de trechos:

"Ninguém repara na nossa sobrancelha. Só a gente.
Tanto sofrimento à toa com aquela pinça idiota.
Mundo cruel."

"Acho noventa minutos muuuuita coisa pra um jogo tão monótono e sem gente bonita em campo."

"Vocês, mulheres, falam porque têm necessidade de emitir sons. (...) Nós, homens, só falamos quando realmente temos algo a dizer. Não desperdiçamos palavras."

"A corrida representava os minutos que eu passava comigo, com a minha cabeça, com o meu corpo, com a minha companhia, em total silêncio."

"Talento é uma coisa que a gente vai construindo aos poucos."

"Nunca mais vou beber refrigerante. (...) Essa é a primeira promessa que quebro."

"Oxóssi, meu pai, tá vendo isso? Oxum, minha mainha, tá acompanhando meu martírio? Me dê força, Iemanjá, me ajude, Iansã! (...) Vem comigo, Olodum!"  (Morri de rir com esse trecho)

"Amanheci gostando dele, fui dormir meio cansadinha do nosso namoro, acordei no dia seguinte decidida a terminar tudo."

"Como são civilizados os homens acima dos 21!"

"Empolguei-me com a ideia de ser a mulher da vida de alguém. Que coisa mais adulta!"

"Às vezes a gente acha mico uma coisa que de mico não tem nada."

"Perdoar é muito mais forte que tolerar."

"Namorar é um soluçar de emoções."


A próxima postagem literária será do livro "Um Dia" 
de David Nicholls
(Vinte anos. Duas pessoas)
Que história, meu Deus!

domingo, 3 de março de 2013

Cantos do Pássaro Encantado: o amor e o tempo

Janeiro rendeu boas e várias leituras, ainda mais com dias de sol! Acabei de ler um romance e já escolhi um de Rubem Alves para relaxar e deixar-me encantar. Só demorei para postar no Blog, mas "às vezes a vida pede um  pouco mais de calma" 
Acredito que é o autor que mais fala ao meu coração, são tantas palavras carregadas de beleza, de magia, que ler é o maior prazer. E não se pode ler da mesma forma com que fazemos com um romance. Ele exige apreciação.


"Cantos do Pássaro Encantado" é a maravilha me acompanhou. Uma obra de arte desde a capa... E diante desta obra meu coração se acelera, pois fiquei realmente apaixonada por cada parte.

Destaco, em especial, a sequência que nos faz refletir que não poderia ser de outra forma. Primeiro,  há o encantamento, descobrimo-nos apaixonados, até entregarmos ao amor. Com a passagem do tempo, reconhecemos que foi uma linda história vivida, que o amor acabou, que o sentimento ressurgiu de outra forma e, sendo assim, devemos aceitar e seguir nossas vidas.

Eis as partes:

- Encantamento e Paixão
- O amor
- A passagem do tempo
- Foi uma linda história de amor...
- Morte e ressurreição
- Sendo assim...

Rubem Alves consegue dizer e citar outros autores tornando a obra completa em seu conteúdo, tocando fundo dentro da gente.
Como ao citar Adélia, em sua simplicidade, diz tudo com dois versos:

Amor é a coisa mais alegre...
Amor é a coisa mais triste...

E com esses versos estamos preparados para o voo do Pássaro.



Reler, observando os trechos destacados é, praticamente, uma releitura da obra. Mas a farei, porque me sinto completamente feliz ao folhear novamente cada página...

O livro não é longo, e  as partes, ao mesmo tempo em que nos permitem um mergulho dentro de nossas experiências, dando a sensação de que estamos sentados em um banco ouvindo Rubem Alves, temos a impressão de que passamos correndo de mãos dadas com ele. Assim são os cantos do Pássaro Encantado, assim também é o amor...

Para terminar, vale a pena dizer que a última parte do livro, Sendo assim, conta uma história em versos de separação com o título: A selva e o Mar.
Penso que é uma linda história para explicar para as crianças sobre algo tão comum hoje em dia que é a separação entre os pais. Tão mais fácil de entender e aceitar...
Se alguém se interessar, faço uma postagem com o texto!


SELEÇÃO DE TRECHOS

 Uma tarefa muito difícil de não ser tão extensa quando se trata de Rubem Alves, quando se trata de Cantos do Pássaro Encantado


"A importância daquelas folhas não era estética (...) Eu as colhi por terem crescido naquele lugar."

(Isso me fez pensar na minha adolescência, o valor de cada papel colado em minha agenda, cada item. Ali havia muito mais... um pedaço de alguém, de uma paixão, de um encanto.
Nunca disse isso no blog, mas muita gente sabe, que tenho muito dessa fase registrada em páginas de agenda. Já foram muito folheadas, são lindas, trabalhadas e vividas... Hoje são apenas lembranças guardadas no fundo do armário. Mas lá estão elas. Talvez merecessem uma postagem no blog)

"O amor feliz não vira literatura ou arte. O amor feliz não é para ser transformado em literatura. É para ser desfrutado. O amor feliz não escreve, ele abraça. Se escreve alguma coisa, são cartas de amor."

"O amor ignora os abismos do tempo."

"Para ela, não há senão dois acontecimentos em sua vida: o dia em que soube que era amada por ele e o dia que o perdeu. Tudo o mais desaparece a seus olhos numa noite profunda."



"Assim foi. Assim será. Eternamente."


"Faço a mesma pergunta que Santo Agostinho fez: "O que é que amo quando te amo?" O que foi que amei quando te vi?
Alguma razão deveria haver. O coração tem suas razões muito embora a razão as desconheça. Esse é o mistério."

"(...) éramos um do outro num amor imperturbável."

"Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por serem assim" Octávio Paz

"O que é sagrado? É aquilo que amo acima das coisas. E eu a estava amando acima de todas as coisas. Ela era sagrada para mim..."

"O amor começa quando colocamos uma metáfora poética no rosto da pessoa amada."

"A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos, seus rostos envoltos pelas sombras. (...) Vez por outra, entretanto, defrontamo-nos com um rosto- ou apenas uma voz, um olhar, um gesto com a mão... - que, sem razões, ilumina um dos quadros que estava no escuro."

(Eu acrescentaria que este livro tem essa capacidade de iluminar, vários textos têm essa capacidade de provocar luz em lugares há tanto tempo no escuro)



"Um pássaro de asas quebradas não planeja voos proibidos. Pássaros de asas quebradas são confiáveis."

"O ciúme nasce quando se toma consciência de que a pessoa amada é livre. Ela é um pássaro pousado no ombro. Nada o prende. Pode voar quando quiser."

"Alguns ciumentos, tolos, acham que casamento é gaiola, que garantirá a posse do pássaro. Mas nada garante a posse do pássaro. Nem mesmo a morte. O pássaro voa, o pássaro volta... Mas pode ser que ele voe e não volte..."

"Eu amo aquela que me faz sorrir de felicidade. (...) Eu a amo porque ela é um pedaço de mim."

"Uma fotografia contém um mistério que está além do visível."



"A beleza acontece quando a eternidade toca o tempo."

"(...)houve alguém, um artista, um fotógrafo, capaz de capturar um momento mágico quando a eternidade tocou o seu rosto. No retrato você está eternizada na sua beleza. É assim que a desejo, para sempre..."

"Olho e percebo que o seu retrato mais se parece com você que você mesma. Porque ele capturou a sua essência. Nele você está perfeita e bela, eternamente. Mas, para assim vê-lo, é preciso que os olhos que o contemplem sejam apaixonados por você..."

"Diante da possibilidade de casamento, só existe uma pergunta a ser feita - terei prazer em conversar com essa pessoa até o fim dos meus dias? Pois é com os tênues fios da conversa que se tece o amor."
Nietzsche

"Anos se passavam, o tempo se arrastava, a espera se alongou. E, quando a espera é muito longa, os sentimentos se enfraquecem."

"De vez em quando ele se perguntava sobre as razões para continuarem juntos, e a única resposta que obtinha era: preguiça - separar dá muito trabalho. É preciso razões muito fortes para haver separações."

"Só uma metade ficou. Mas a que ficou não era a metade mais amada. A outra metade, a arrancada, essa era a adorada. Quem era essa metade adorada? Era a pessoa amada que partiu, deixando no seu lugar o vazio triste chamado saudade."

"- O seu sofrimento se deve ao fato de que você se lembra dela e sente saudades. Se nós a apagarmos da sua memória, você deixará de ter saudades e ficará feliz...
- Tudo menos isso! Porque é na dor da minha saudade que ela continua viva..."

"O conhecimento exige paciência."

"Se você quiser voltar a saber quem você é, terá que se lembrar dos sonhos de que se esqueceu."
Bastian Balthazar

"(...) o amoroso goza o seu amor com a leveza de uma criança, enquanto o apaixonado sofre a sua paixão por vivê-la sempre iluminada pela possibilidade da perda."

"O amante sente saudades da mulher amada mesmo estando ela presente."

"A morte, ao levar a pessoa amada, retira-a do tempo, eterniza o amor e congela o abraço - como numa fotografia. Ali o amor está fixado para sempre."


"É preciso que o tempo faça o seu trabalho de esquecimento. Mas o amante abandonado não quer esquecer. Porque ama. Ainda não foi atingido pela graça da desesperança, que chega muito devagar... Por isso ele sofre..."

"Tenho saudade da tua outra imagem, que não existe mais. Ela era bela, perfeita... Eu ficava feliz por perdoar os ferimentos dos teus espinhos..."

E finalizo com um trecho perfeito, que vale a pena reescrever. Faz entender como conseguimos amar tanto alguma pessoa e, depois seguir a vida, perdoar e recomeçar...


"(...) Continuo apaixonado. Mas não por ti. Amo uma imagem que não existe. A imagem da rosa vermelha e perfumada com todos os seus espinhos. E continuo a perdoá-la para que ela, na minha memória continue a ser objeto do meu amor. Continuo a amá-la, agora não mais como presença, mas como ausência, ser da saudade. A saudade, perfume de ausência, é o único lugar onde posso guardá-la perfeita como foi. A rosa que amei não existe mais. Amo o que não existe. Não é a ti que amo...
Compreendes agora por que é fácil perdoar o que fizeste comigo, mas é impossível perdoar o que fizeste contigo mesmo? Tu és outra..."

Roland Barthes

Até a próxima postagem!