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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Águas de Lindóia, meu presente é você!

Hoje é aniversário da minha cidade, e eu devo uma declaração da mesma forma que fiz para minha Campinas que me inunda de saudade.
Falar de Aguas de Lindóia me faz pensar em lar, família, aconchego, vida. Aqui vivi e vivo muitas histórias.
Foi nessa terra que conheci grandes amigos, que perdi grandes pessoas, que conheci o amor e também o desconheci. Foi também por essas ruas que passei cantando, que pulei meus primeiros carnavais junto com meus pais, que desfilei desde pequena pelas ruas. Foi aqui que conheci o samba, que dei meus primeiros passos, que me vesti de lantejoula e saí para o mundo!

Da minha infância, lembro da Lara quando ainda nem sabia o que era amizade, aquele tico de gente já aparecia em casa para brincar. Foi a pessoa mais marcante da minha infância. Como aquela pergunta: quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha, eu também não saberia responder: quem surgiu primeiro: a Lara ou a amizade?
Dessa cidade guardo também memórias de minha vida escolar. Começando pela Vidinha feliz, cujo nome para mim me parecia o mais irônico possível. Eu chorava até! E me lembro da professora abrindo a cortininha e pegando quebra-cabeça. Era isso todo dia! Eu de pequena já sabia: lá eu não queria ficar. Que vidinha mais infeliz! Não tenho fotos dessa época. Há certas coisas que não precisam de registro... hahaha

Crescendo fui para a escola, e não pensem que eu gostava. Lembro do meu pai me levando e eu olhando para baixo. As faixas do chão iam embassando com as minhas lágrimas. A escola não era meu lugar no mundo. Não nessa fase.
Engraçado que todos amavam aula de Artes e Educação Física, como nos dias de hoje, mas eu não. Já me mostrava uma pessoa diferente nesses aspectos. Eu não sabia fazer margem, não sabia cortar reto, nem circular. E também não via propósito em desenhar milhares de vezes a fachada da escola. Professores... quantas frustrações....
Quanto à educação física, as aulas eram difíceis para mim: virar cambalhota, virar na barra, pendurar na corda. Eu não queria ver o mundo de ponta cabeça. Sábia, eu não queria ver o mundo de pernas para o ar. Quantas lágrimas...

Fui crescendo e arrastei por um bom tempo minhas bonecas. Não tinha vergonha de nada. Gabriela, Vivian, Paloma eram minhas companheiras, e eu não iria abandoná-las por mais que minha altura me dissesse que o tempo estava chegando ao fim. Eu sabia que podia ignorar os fatos e viver meu modo de ser feliz.
Confesso que essa brincadeira foi prolongada até demais. Abandonei as bonecas pouco antes de arrumar meu primeiro namorado aos catorze anos. Não me arrependo de ter vivido tão intensamente esse momento. Talvez me arrependa do meu primeiro namorado, mas jamais da primeira boneca.

Aos poucos, a vontade de brincar foi cessando e, hoje, minhas bonecas permanecem com as mesmas roupas com as quais estavam no dia de nossa despedida. Porém o espaço que elas tinham foi substituída por uma escrivaninha e livros, e o tempo dedicado a elas se tornou dedicação aos estudos. O tempo passa e mudamos nossas prioridades. Dessa forma, a infância foi guardada no armário.

Foi então que me apaixonei pela escola, pela leitura, literatura, poemas e já me inclinava para os futuros passos de uma jovem professora de português. Decidi que seguiria esse caminho, e Aguas de Lindoia com todas as belezas , com tudo que carregava e signifcava para mim, com meus amores, com meus amigos e familiares me fez arrumar as malas e seguir.
Olhar a cidade ficar para trás me dava muita angústia, uma tristeza indescritível, mas como era bom ver o verde chegar, com ele o portal e estava em casa. Essa sim é cidade de verdade! Se Campinas é uma paixão, Aguas de Lindóia é um amor.

Eu quis sim continuar em Campinas depois da faculdade, mas tudo me fez arrumar as malas e voltar para o meu lugar. Deixei então minha grande paixão, e voltei como professora, como substituta, depois, contratada e, por fim, funcionária pública.

É por esse lugar que faço minha história, que trago comigo a vivência de meus alunos, que carrego minhas perdas e fracassos, mas aqui também que tenho aplausos de quem conheço, sorrisos de quem amo, e arrasto minhas conquistas. Por cada canto, passo também com meus cachorros, deixo meu sorriso, perco meu olhar, penduro minha risada e vivo da melhor forma o que se tem para viver.

Cidade pequena, de pessoas conhecidas, de paz, de silêncio e mansidão. Cidade verde, bem desenhadinha, aconchegante. Devo a você um poema, uma declaração, para retribuir um pouco por ter sido plano de fundo, cenário e protagonista de minha vida!

Como diz a melodia de Zequinha de Abreu, Tardes de Lindoia(*), até o sol morre tristonho, porque não quer deixar a cidade. A cidade é feita de luz, e quando ela se vai, nós nos vestimos de sonhos.
Quer interpretação mais poética?!
Espero que essa cidade continue sendo parte da história de muita gente que vive e que passa por aqui e que seja sempre uma cidade calma, de paz, de verde, de sonhos!

(*)
"Tardes silenciosas de Lindóia
Quando o sol morre tristonho
Tardes em que toda a natureza
Veste-se de véu, e de sonho"

Tão bom sentir-se em casa na nossa própria terra.
Essa cidade é muito minha!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Finados...

Hoje é o dia de pensarmos em todos aqueles que já passaram pelas nossas vidas e concluíram uma etapa. Alguns nos deixaram cedo demais, outros já sabíamos que seriam levados, e há aqueles que nunca gostaríamos de ter perdido de vista.

Interessante pensar que temos, em nosso calendário, um dia para celebrar os nossos mortos, porque talvez o dia-a-dia nos ocupe com tantos afazeres que aqueles que nos foram importantes em muitas etapas ou durante grande parte de nossas vidas acabam sendo esquecidos.
Sim, hoje é uma homenagem a todos esses que partiram e nos deixaram como legado as melhores lembranças e uma saudade gostosa. Morrer e ser apagado seria muito triste. Por isso temos que pensar no que fazemos em nosso presente, em como participamos na vida do outro para que possamos ser lembrados, adorados e celebrados ainda quando não mais estivermos entre eles.
Hoje não é dia de chorar, mas de agradecer por terem participado de nossa história, por terem contruibuído com capítulos que escrevemos juntos, pelos ecos de risadas que ainda podemos escutar. Acredito que também temos que rezar por eles, para que continuem iluminando nossos caminhos, porque se tornaram estrelas. Gosto dessa explicação dada para as crianças: ele foi para o céu, virou estrela. Sim, é isso mesmo. Não que seja aquela que olhamos para o céu, mas que são seres de luz, que estão ainda presentes em nossos corações e talvez em nossos caminhos, tirando os obstaculos, ou quem sabe nos carregando em alguns momentos, ou nos dando um beijo na testa como forma de proteção e carinho.


De todas as pessoas que conheci aqui, meu avô com certeza foi uma grande perda, foi a primeira pessoa que me fez sentir mesmo. Ele era uma pessoa divertidíssima, engraçado, assistia a Chaves, chupava bala até metade e guardava, tirava com a cara das pessoas, trazia peixe, gostava das frutas do Natal, jogava baralho, amava dançar... Achava bonito ouvir alguém falando inglês, gostava de passear, tudo para ele estava bom. E as piadas?! Contava um pedaço e morria de rir, depois meu pai o lembrava do restante e ele ria ainda mais. Boas lembranças.

De casa também foi a vez da Bilia, que me fez sentir aliviada, porque a vida aqui já não fazia mais sentido para ela, e o que eu queria mesmo era que meu avô viesse buscá-la para dançarem juntos por esse mundo imenso. Lembro também do tanto que eu e ela brigávamos, o que nem parecia que eu, quando pequena, era muito apegada a ela e dormia no quarto dela de mãos dadas... hahahaha Coisas da vida. Depois passamos a vida brigando por tudo, mas também dávamos risada. Dou risada ainda quando lembro que fazia a unha dela e uma vez coloquei a água e quando vi que estava fervendo perguntei a ela: Não está sentindo? Está muito quente.... Ela nem tinha falado nada. Sempre fomos muito diferentes e isso causava muitos atritos em casa, mas tornavam o ambiente agitado e sempre novo.

Tem também a Tia Clarice, irmã da Bilia, que era uma peça rara. Morreu assistindo "A praça é nossa". Se matava de rir com o Moacyr Franco e tinha pavor de ser enterrada viva. Lembro que me pedia para ir no velório dela e dar um tiro para garantir. Eu dava risada, e ela também ao pensar na cena. E eu ainda brincava: também não se levante se eu for ver vc.
Quando morreu, eu até quis rir de lembrar, e observei bem como ela tinha me pedido, ela já tinha partido mesmo... Não foi preciso dar o tiro hahahaha

O meu vô Hugo também, pai de minha mãe, sempre presente, me recheou dos brinquedos mais legais quando pequena, depois brincava que eu trocava sempre de namorado, e dava foras trocando nomes ou dizendo na frente que era "outro", adorava os cachorros e gostava também de novelas.

Nossa... o Nane... meu bisavô, conheci também. Pai da Bilia. Eu jogava baralho com ele... Uma amável alma.
Lembranças de quem se foi...

Do mundo, o que me recordo bem é do Vinicinho, nosso Pequeno Príncipe, tão cedo nos deixou... Quanto nos divertimos em Campinas nos bares, pagodes, bebendo tudo que tínhamos direito, voltávamos voando pela estrada. Uma vez eu quis trazer umas coisas que não usava mais para Aguas e voltando com ele por uma estrada de terra, não sobrou um prato ou xícara inteira. Era uma pessoa muito divertida, que até para vomitar já me fez cia.... Já me levou passear quando fiquei doente, ria das minhas histórias amorosas que não davam em nada e das minhas aventuras sem fundamentos, era companheiro de shopping e de tantas coisas.. Ele me chamava de capiá... Saudades desse pequeno...
A todas essas pessoas que por aqui passaram, que pela minha vida cruzaram e de certa forma permaneceram gostaria que tivessem ficado, mas Deus sabe o que faz. Cada um tem seu tempo e nesse tempo conseguem se tornar tão inesquecíveis que passam a ser eternizados dentro da gente.
Espero que recebam um beijo carinhoso na testa e um pouco da minha luz para que continuem a iluminar nossa vida aqui embaixo. Saibam que estarão sempre na memória e nas lembranças mais gostosas dentro do meu coração. Um dia nós nos reencontraremos de alguma forma, e será uma grande festa.
Enquanto isso, vocês iluminam daí e nós refletimos daqui.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Silêncio e um pronunciamento

Desde o dia dos professores que não escrevo. Tive algumas ideias do que escrever, mas ainda não vivi o texto comigo. Então anoto os tópicos para que eu me lembre e talvez escreva um dia.
Fico impressionada com os blogs que têm assuntos diariamente, enquanto o meu está parado. Sorte a minha que não vivo disso, mas talvez meus leitores estejam esperando algum pronunciamento.

Estou lendo As Crônicas de Nárnia, são sete livros e estou encerrando o último. São muitas aventuras e me sinto correr atrás dessas crianças o tempo todo. Engraçada a sensação. Acho que o livro tem tomado toda minha energia e estou exausta, mas rumo ao fim. Estou adorando a simbologia, assim como o poder da imaginação das crianças e o modo como as histórias são contadas.
Comentar esse livro seria uma ousadia, porque é muito extenso. Mas posso destacar alguns pontos de que gosto:

- Saber que em Nárnia o tempo é diferente do nosso. As crianças podem sumir um segundo do tempo real e passar anos em Nárnia. Isso mostro o nosso desejo de tornar alguns momentos eternos.

- A fé em Aslam e no seu poder de mudar o rumo das coisas. Ou seja, apesar de todas as adversidades, as crianças não deixam de acreditar, de seguir os sinais e esperar por Aslam, que seria uma metáfora para Deus.

- Só as crianças vão para Nárnia. Quando elas deixam essa fase, não podem mais atravessar os mundos, porque a magia se acaba.

- A loucura das aventuras, animais falantes, engraçados.

E por fim, é lendo Nárnia que esqueço dos acontecimentos recentes do nosso Brasil, de um povo que não sabe a responsabilidade de se ausentar numa decisão que envolve 4 anos e de tantos outros que não têm critérios para exercer sua função de cidadão. Mas, como já perdemos a Copa, também perdemos a eleição, e espero que o Brasil não esteja, assim, também perdido! Afinal, somos todos crescidos e não podemos ir para outro mundo. Aqui é o nosso lugar e nos resta reconhecer o desejo da maioria dos brasileiros e torcer para que o nosso futuro nos surpreenda com o melhor.

Retorno, dessa forma, à Última Batalha, último livro de meu desafio e volto a postar considerações finais caso seja tomada por algum estímulo de escrever e compartilhar...